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A musa e o tango - conto

Fazia tempo que Arthur sonhava frequentemente com uma melodia. No sonho, uma bela moça executava a música em uma flauta. O aspecto da moça era de uma beleza exótica, como se não pertencesse a esta época; uma longa cabeleira castanha se estendia sobre seus ombros; mas o elemento que mais claramente aparecia no sonho era a música, uma melodia doce e rica em variações harmônicas. Após acordar, Arthur tentava reproduzir a melodia no seu piano, mas não era fácil lembrar a música onírica durante a vigília; portanto, o pianista demorou alguns dias para recordar as primeiras frases musicais ouvidas naquele sonho recorrente. O sonho vinha com frequência, chegando a ser quase diária. O aspecto da moça variava algumas vezes, mostrando-se mais morena ou mais loira, e o formato da flauta também se mostrava variável. Esta, em algumas ocasiões, aparecia dupla, com duas extensões bifurcando-se em V. Houve uma vez em que sonhou a moça tocando um alaúde. Após vários dias, Arthur conseguiu escrever alg

Vênus e o corsário

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Vênus repousava em uma ilha tropical. Gotas do céu rodavam como uvas sobre seu ventre. O capitão corsário, preso às redes do encantamento, não saiu do colo de Poseidon, imobilizado pelo elixir da Vênus morena. Não serão as gargantas dos krakens as que devorarão o jovem capitão, não será arrastado às profundezas pelos braços de Triton. Antes verá o corsário perder-se no ventre da Vênus de bronze e, junto com suas uvas, embriagar-se de desejo. 6 de abril de 2021

A trilha do amor

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Transito a trilha do amor Junto à trilha da poesia. Fui senhor de tantas terras E tão senhor dos sonhos. E hoje danço pelas conquistas Olhando o mundo pela janela. Chovem cantos de rouxinóis Que nem se lembram da desolação. 17/02/2019

Taça de chuva

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Te ofereço uma taça De água de chuva Para que a bebamos Como um vermelho cabernet. Não é uma chuva de lágrimas, É uma taça de risos Derramados no mar Que atravessamos Proa à felicidade.

Divino Jogo Milonguero

Caem moedas de ouro de um bandoneon. Passa a estrela tanguera de nosso céu. Uma melodia luminosa enlaça o planeta e amarra nós de promessas na madrugada. Abre um vácuo de abandono e o derrama numa fonte de milagres de amores. Caminhamos sobre esse fio, sobre essa corda de violino que desafia o abraço a escalar os lábios e nadar entre cabelos. Insinua-se uma imagem acesa de erotismo que compra o coração, que é superfície de bronze em suculenta tinta vermelha e preta. E o olho pregado e preso entre o mandato de salto e laço das doces cascatas de harmonias, abre-se para o sonho do jogo de flechas que vão atravessar amores e amargores. Chegará o amanhecer, claro e luminoso, cálido e satisfeito, e o sonho se despedirá como um abraço nu, um enlace para a próxima noite em que o jogo se repetirá, mas não será como sempre.

Castelo do poeta

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Por uma trilha espirrada de notas de piano para o cume do morro onde se levanta o castelo do poeta soltei minha oração frente ao mar testemunha de amores pois os céus deste planeta vasto e pequeno abençoaram os caminhos que eu e minha companheira marcamos com pegadas de vinho tinto

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Em um campo semeado de crepúsculo deixei uma idílica juventude. Cresci à força de desencontro e preferi escolher minha própria tragédia. E a tragédia não estava em cenas de filmes românticos; a aventura não era um doce passeio, parecia-se mais ao amargo chimarrão. O frio da vida solitária gelou-me até os ossos. E a pesar de todos os sonhos, eu estava infalivelmente só. GA 17/11/2016